Thomaz Feres na batuta do Mario.

O Mário Feres fez pro seu filho, Thomaz Lucas Feres, o que o seu pai, Feis Feres, fez pra ele. Logo aos três anos o Thomaz ganhou uma bateria do Mário, vermelha. Inúmeras vezes eu presenciei o Thomaz quebrando o silêncio encantador da primeira casa na Hípica, onde a família morou por uns tempos. Era uma casa simples, mas muito gostosa, quintal a perder de vista, com a bateria do Thomaz sempre ao lado do piano do maestro Mário, aquele pai sempre presente, atento, amigo, o pai que fez pros filhos Luísa e Thomaz o que poucos pais conseguiram no mundo: dedicar um tempinho maior na primeira infância. Mario e Vania fizeram isso no dia a dia. Muita vez vi o Mário subir em árvore com o Thomaz e contar historinha pra ele, lá na segunda casa da hípica (Grete e Belinda). Um Tarzan desgarrado no tempo, na candura da mais pura inocência. Dentro dele sempre morou uma criança.
De vez em quando o Mario ia me mostrar uma música ao piano e logo o Thomaz sentava naquela maquininha de fazer barulho e punha a passarada em polvorosa. Bandos de Joões-de-barro e bem-te-vis chegaram a fazer greve de fome. Eu vi!
Aquela bateria vermelha acompanhou o Thomaz até a casa nova, onde ficaria por uns tempos no estúdio do Mário. Depois o Thomaz começou a arranhar o violão e o Mário em cima: “faz assim que é melhor, aí não, agora tá bom...”
Em 15 de Janeiro de 2011 eu filmei os dois tocando Águas de Março do Tom Jobim, com o Mário ao piano e o Thomaz no violão. Quando acabaram de tocar eu brinquei com eles:
--- Mário, esse menino leva jeito.
Vinte e oito dias após o falecimento do Mario, o Thomaz sobe ao palco e experimenta de corpo e alma o que o seu pai mais gostava: o calor do palco e as luzes da ribalta.